Publicado em 18 de janeiro de 2010
Cultura: uma necessidade básica
Le Monde Diplomatique, janeiro de 2010.
Em entrevista à redação do Le Monde Diplomatique, o ministro da Cultura fala a respeito do panorama atual da cultura brasileira. Sobre a Reforma da Lei Rouanet, Juca Ferreira destaca:
“Começou com muita gente contra, porque seria uma forma de dar dinheiro público de graça para fazer marketing de empresa e com caráter perverso de aparentar que é um mercenato privado. Mas, na verdade, em 18 anos, só 5% foi dinheiro privado e 95% foi público. Ou seja, é uma maneira de transferir para a cultura um montante que corresponde a 80% da verba do Ministério. Claro, isso se dá de uma forma cruel porque não há critérios para definir onde colocar o quê.
No governo passado houve até investimento em festas privadas, financiáveis pela Lei Rouanet. Dentro de uma perspectiva, era aprovado tudo o que tinha possibilidade de dar retorno de imagem para a empresa.
Isso gerou um grau de concentração enorme: 3% dos proponentes ficaram com mais de metade desse dinheiro, 80% do investimento estava em duas cidades e as ações eram mais voltadas para eventos do que iniciativas estruturantes, no sentido de desenvolvimento cultural, de ampliação de acesso ou de fortalecimento de uma economia da cultural.
A mudança desse cenário gerou um impacto. Inicialmente houve grande resistência, mas isso já foi revertido. Coincidiu que, na época que isso estava entrando em pauta, eu virei ministro. Lembro-me de ter pensado: “é vencer ou vencer, vou para a estrada”.
Rodei o Brasil, fui a 20 estados. Cerca de 20 mil pessoas estiveram nos eventos que participei, entre artistas, produtores, empresários da cultura, financiadores, instituições e gestores. O esforço valeu a pena porque conseguimos reverter uma tendência inicial, meio “pavloviana”, de ser contra qualquer coisa que racionalize, que democratize”.
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